Depoimento
Prof. Lucas Alvares da Silva Mól
Minha carreira como físico foi construída na UFV. Iniciei a graduação em 1998, quando o departamento ainda ficava no prédio próximo à biblioteca central onde hoje funciona o CEE. Minha primeira aula de física foi no antigo galpão da física, que ficava ao lado de onde hoje é o Banco do Brasil, atrás da oficina mecânica. Na verdade, foi uma aula trote dos veteranos, que após fazerem um certo terrorismo acolheram os novos estudantes explicando-lhes melhor como funcionavam as coisas no curso e na UFV. O professor de fato era o Oderli Aguiar que cativou enormemente toda a turma. Logo de início reconheci o comprometimento e disponibilidade dos professores. Me lembro do impacto que foi a mudança para o prédio novo. Tudo passou a ficar no mesmo lugar e não mais espalhado pelo campus. Outro fato que me marcou muito foi a chegada de equipamentos novos da Phywe para os laboratórios de ensino que ocorreu pouco depois da mudança. Muita coisa estava mudando pela minha percepção.
Durante minha graduação vivenciei no DPF uma imensa gama de situações que me proporcionaram uma formação diferenciada. Tive a oportunidade de participar de projetos de extensão voltados à divulgação científica com o prof. Evandro Passos no Parque da Ciência. Atuei como monitor de disciplinas de graduação por muitos anos, tendo contato próximo com estudantes de diversos cursos no que foi para mim uma espécie de iniciação à docência. Eu passava tempo considerável no almoxarifado com a Lúcia e o Marcelino, aprendendo sobre a vida e “fuçando” nas montagens experimentais das disciplinas experimentais. Ótimos tempos! Minha iniciação científica começou com o prof. Marcelo Lobato – cerca de dois meses, pelo que me lembro, onde ele me dava “aulas particulares” sobre o Modelo de Ising e Simulações. Passei depois a trabalhar em teoria de campos em sistemas de matéria condensada com o prof. Afrânio Pereira, a quem devo minha formação como pesquisador. A grande disponibilidade dos professores e funcionários em auxiliar os alunos, tanto nas disciplinas quanto na iniciação científica, foi um dos pontos que mais marcaram minha formação. Acredito que essa grande variedade de opções e vivências, sempre marcadas pelo comprometimento das pessoas envolvidas, me proporcionaram uma formação diferenciada que dificilmente encontraria em outro lugar do mundo. O clima acolhedor existente à época, onde vários alunos “viviam” no DPF, gerou um ambiente que formou vários professores e pesquisadores que hoje em dia são referências em suas instituições. Não me atrevo a citá-los aqui para não cometer injustiça, mas conheço vários que beberam dessa fonte e hoje desempenham com maestria aquilo que foram formados para fazer.
Os pontos listados acima contribuíram fortemente para que eu mudasse meus planos iniciais de ser professor de cursinho pré-vestibular para querer ser professor do DPF, fazendo pesquisas e formando novos físicos. A criação do mestrado em 2001 permitiu que eu cursasse a primeira parte da minha pós-graduação na UFV, onde iniciei o mestrado em 2003. Sobre a criação do curso de pós-graduação me recordo do enorme envolvimento dos professores Marcelo Lobato, Afrânio Pereira e Ricardo Cordeiro. Recordo-me principalmente deles por ter um contato mais próximo e por presenciar algumas conversas nos corredores. Para o doutorado, fui para UFMG, já que à época, apesar do empenho e negociações avançadas com a UFJF, o doutorado ainda não havia sido criado. Mesmo assim, mantive fortes vínculos com a UFV, em especial, continuei a fazer pesquisas em colaboração com o prof. Afrânio Pereira tendo publicado ainda durante meu doutorado um dos trabalhos mais relevantes da minha carreira, nosso primeiro artigo sobre gelos de spin artificiais. Me recordo também da “preocupação” externada por alguns professores da UFMG com a criação do Doutorado na UFV, o que diminuiria o fluxo de excelentes estudantes formados na UFV para UFMG. À época era notório o alto desempenho dos ex-estudantes da UFV na pós da UFMG e o impacto que isto tinha.
Meu plano de me tornar professor efetivo da UFV se tornou realidade em 2009. Os três anos e meio que atuei como professor do DPF foi um período excepcional da minha vida. Tive a oportunidade de tentar retribuir um pouco do que aprendi. Formei estudantes, fiz pesquisas e lecionei para diversos cursos. Cresci muito profissionalmente. O ambiente colaborativo e cordial existente no departamento permitiu que eu pudesse me dedicar sobremaneira às minhas atividades de pesquisa. Parte muito importante do processo foi o reconhecimento deste esforço e o incentivo dado pelos colegas. Me recordo de receber todo tipo de suporte e apoio para minhas atividades de pesquisa, o que permitiu um crescimento significativo dos impactos do nosso grupo.
Por motivos pessoais acabei decidindo prestar concurso para professor na UFMG em 2012. Lembro-me de não ter muitas expectativas inicialmente por não ter feito doutorado sanduíche ou pós-doutorado no exterior, condição que era tida quase que como necessária para passar num concurso na UFMG. Mas a formação e o ambiente de trabalho propício que o DPF-UFV me forneceu suprimiu essa “lacuna” da minha formação e levaram à minha aprovação no concurso e, com muito pesar, acabei me transferindo para UFMG.
Ainda hoje mantenho colaborações frutíferas com os professores do DPF. Quando visito meus familiares em Viçosa, não posso deixar de visitar o departamento, ver os amigos que fiz e admirar a forma com que cada vez mais essa instituição que amo e que tanto contribuiu pra minha vida evolui de forma consistente e sólida. Quando vejo que destes 50 anos que o departamento está comemorando estive envolvido em quase a metade, sinto um orgulho gigantesco de ter bebido desta fonte e de ter contribuído, mesmo que por pouco tempo e de forma extremamente modesta, para que o DPF chegasse onde chegou. Muito obrigado Departamento de Física da UFV! Que os próximos 50 anos sejam de ainda mais sucessos e contribuições para a ciência e para sociedade! Continue formando profissionais de qualidade excepcional! Vida longa ao DPF!