Depoimento
Profa. Andreza Germana da Silva Subtil
Confesso ser uma tarefa difícil e até emotiva fazer esse depoimento em comemoração aos 50 anos do Departamento de Física da UFV (DPF), pois é uma história de vida. Seis anos da minha formação foram vividos vestindo a camisa do DPF, como estudante, e há doze anos tenho orgulho de ser parte do corpo docente desta instituição.
Minha história com a Universidade Federal de Viçosa, que comemora 95 anos em 2021, e com o Departamento de Física, comemorando seus 50 anos, teve início em março do ano de 1998, quando se deu meu ingresso no curso de Física. Éramos 25 alunos, sendo 20 homens e 5 mulheres. Da nossa turma de 1998 temos diversos colegas atuando em diferentes universidades públicas do país, sendo eu e o Professor Hallan Silva do quadro de docentes da UFV, e o Professor Lucas Mól, que já foi docente do DPF-UFV. Em 1998 a estrutura física do DPF era descentralizada.
Os Laboratórios de Pesquisas Experimentais eram próximos à antiga agência do Banco do Brasil no Campus, onde atualmente é a sede da UFVcredi. Era nesse local, também, que ficavam os gabinetes dos professores que atuavam na área experimental, como os Professores Alexandre Tadeu, Ademir Richard, Helder, Sukarno e Álvaro Neves, se não me falhe a memória. No CEE (Centro de Ensino De Extensão), próximo à estrutura do Hotel do CEE, ficavam localizados os gabinetes dos outros professores, como Marcelo Lobato, Ricardo Cordeiro, Marcos Couto, Afrânio, José Arnaldo, Orlando, dentre outros, bem como o GISC (Grupo de Investigação de Sistemas Complexos), algumas salas de aula e laboratórios de ensino, onde ficavam os técnicos Lúcia e Marcelino, salas de monitoria e de estudo para os alunos de Física. Passamos muitas madrugadas estudando nesta sala. No antigo Parque das Ciências tínhamos salas de aulas, o gabinete do Professor Oderli de Aguiar e a oficina de marcenaria, onde trabalhava o senhor Expedito. Me perdoem se me falhar a memória para alguns nomes e organizações do espaço físico, pois já se passaram muitos anos.
Nosso primeiro contato com a Física foi cursando a disciplina FIS 200, quando as aulas de Teoria e Laboratório eram condensadas na mesma disciplina. O Professor Oderli foi o nosso primeiro professor de Física Teórica, nossas aulas aconteciam no Parque das Ciências. O Professor Orlando nosso primeiro Professor de Laboratório. Lembro do Professor Orlando tirando uma foto da nossa turma em uma aula de Laboratório de Mecânica, para testar uma máquina fotográfica recentemente adquirida pelo departamento. Se essa foto existe, se o filme foi revelado, apenas o Professor Orlando poderá nos contar.
Apesar do número ainda pequeno de professores e estudantes e, mesmo sem existir ainda o programa de Pós-Graduação em Física, tínhamos grupos de pesquisa atuantes tanto na área experimental quanto na teórica. No ano de 1999 iniciei minha Iniciação Científica com o Professor Alexandre Tadeu. O Professor Alexandre foi fundamental na minha formação e posso dizer que foi meu pai científico. Ele me ensinou a ter paixão pela Física Experimental, a ser criteriosa nas minhas observações e análises, bem como ser perseverante diante de dificuldades que surgem desde a idealização até a conclusão de um determinado trabalho científico. Outro ensinamento foi que no “lixão” da UFV sempre era possível encontrar coisas úteis. Fomos lá diversas vezes e confesso que eu achava muito divertido e sempre aprendia muito com ele nestas visitas. Não posso esquecer de mencionar que foi o Professor Alexandre que me ensinou a me posicionar diante do fato de ser umas das pouquíssimas mulheres que permaneciam firmes no curso e que possuíam bolsa de Iniciação Científica. Seus ensinamentos e conversas me fizeram sentir mais confiança no meu potencial e saber me posicionar diante de certos comentários que sempre existiam.
Quero citar uma característica marcante do DPF, que permanece até hoje. O Departamento incentiva alunos de Iniciação Científica e professores a participarem de congressos e conferências importantes na área de concentração do seu grupo. Foram inúmeras aventuras vividas em nossas viagens a estes congressos. Me lembro como se fosse hoje do primeiro em que participei fora de Viçosa, o XXIV Encontro Nacional de Física da Matéria Condensada, na cidade de São Lourenço, em 2002. Na Van apenas eu e o Professor Hallan, na época estudantes, viajando junto com os professores do departamento. Recordo da nossa famosa parada na churrascaria de Juiz de Fora, quando estávamos indo para algum congresso no sul de Minas, e que até há pouco tempo, eu já como docente, tive a oportunidade de também parar com meus alunos de Iniciação Científica. São lembranças guardadas com muito carinho e felizmente tenho muitos registros que me fazem lembrar dos momentos vividos.
Com o tempo, o número de ingressos anuais do curso aumentou, e com isso uma Van já não era suficiente para as viagens aos congressos e íamos de ônibus. O Professor Marcelo Lobato assumia a liderança da organização nas paradas, na maioria das vezes, e quase sempre viajava próximo ao motorista. Felizmente o número de mulheres estudantes no curso também aumentou e já foi possível eu dividir o quarto dos hotéis das conferências com pessoas conhecidas, antes disso dividia com alunas de outras universidades. Um dos congressos que ficou na memória foi quando nós estudantes ficamos hospedados em um Quartel do exercício em São Jão Del Rey. Às cinco horas da manhã éramos despertados pelo Toque de Alvorada que acordavam os soldados.
No início dos anos dois mil nos mudamos para o recém-inaugurado prédio do CCE (Centro de Ciências Exatas) em que se concentra a estrutura física atual do DPF. Participei com alegria da mudança, ajudei a carregar caixas e a organizar o laboratório em que eu era estudante de Iniciação Científica. Nesse prédio tínhamos nossa sala de Iniciação Científica, onde passávamos muitas horas estudando. Acredito que a maior parte do meu tempo durante meus anos de estudante da UFV passei dentro das dependências deste prédio, revezando entre o laboratório, enquanto desenvolvia meu trabalho de pesquisa, e a salinha de IC, estudando.
Em março de 2003 me graduei como Bacharel e Licenciada em Física e, no mesmo mês, me tornei estudante de mestrado do recém-criado Programa de Pós-Graduação em Física do DPF.
Um ano depois eu defendia a dissertação de mestrado, ainda sob a orientação do Professor Alexandre Tadeu. Me lembro do Professor Afrânio, coordenador da Pós-Graduação na época, fazendo a abertura da minha seção de defesa, em que estavam compondo a banca os Professores Alfredo Gontijo e Karla Balzuweit, da UFMG, e Professora Regina Simplício, hoje professora do Departamento de Química da UFV. A minha dissertação foi a primeira defendida por uma mulher no programa, felizmente depois vieram várias outras.
Em março de 2004 iniciei o meu doutorado na UFMG. Quase no final do doutorado encontrei com o Professor Sukarno, que foi à UFMG caracterizar algumas amostras, e conversando sobre as pesquisas em andamento no DPF da UFV, me interessei muito pelas amostras de pontos quânticos coloidais que estavam sendo produzidas pelo Professor Marcos Couto. Apesar de três anos do meu doutorado terem sido dedicados à caracterização elétrica de amostras nanoestruturadas, no último ano me apaixonei pela caracterização óptica e magneto óptica de nanosestruturas e vimos nessa conversa uma possibilidade para um Pós-doutorado através da parceria UFV/UFMG. Assim, o Professor Sukarno foi meu orientador de Pós-Doutorado com a coorientação do Professor Luiz Alberto Cury, pela UFMG. Foram nestes meses de trabalho que conheci e comecei a trabalhar com os pontos quânticos coloidais luminescentes.
Em janeiro de 2009 fiz o concurso para a vaga de Professor Adjunto do Departamento de Física da UFV. O meu projeto de pesquisa foi voltado para a Produção e Caracterização de nanoestruturas luminescentes, dando especial atenção aos pontos quânticos coloidais semicondutores. Fui aprovada no concurso e fiquei muito feliz por saber que a partir daquele momento, os grandes mestres que foram fundamentais para a minha formação, passariam a ser meus companheiros de trabalho.
Em julho de 2009 assumi o cargo como professora e desde então venho fazendo parte do grupo que veste a camisa e se dedica para o crescimento tanto da nossa Graduação, quanto da nossa Pós-Graduação. No momento em que assumi o cargo como professora, passei a ser novamente a única menina do grupo, sendo sempre muito respeitada pelos meus companheiros de trabalho. Em 2017 recebemos a Professora Mariana Brandão que compõem comigo o quadro professoras no DPF. Felizmente hoje somos companheiras de laboratório e de pesquisa.
Nunca me senti fragilizada por ser uma mulher no meio de um time composto em sua maioria por homens, muito pelo contrário. Graças à confiança depositada no meu potencial por todos os colegas do DPF, ao apoio dos professores Marcelo Lobato, Marcos Couto e Sukarno, que tanto nos auxiliaram na estruturação do nosso Laboratório de Produção e Caracterização Óptica de nanoestruturas luminescentes, hoje dispomos de uma infraestrutura que atende às nossas principais demandas e, com isso, formamos recursos humanos à nível de iniciação científica, mestrado e doutorado.
Quando olho para trás vejo como o DPF está ligado ao meu crescimento profissional e como evoluiu desde 1998, quando foi minha entrada como estudante da UFV. Hoje contamos com uma Pós-Graduação que vem se consolidando cada vez mais no cenário nacional, com pesquisas teóricas e experimentais de ponta. A tendência, assim espero, é que o DPF continue a crescer cada vez mais tanto nos seus cursos de Graduação quanto no Curso de Pós-Graduação.
Para finalizar, deixo registradas algumas fotos do meu acervo pessoal e que fazem parte da minha história junto ao
DPF.